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A grande atração, ontem, 11 de agosto, em Marialva, foi a apresentação do sanfoneiro pernambucano Truvinca. Com 70 anos de idade e 60 como instrumentista, Truvinca esbanja virtuosismo em sua sanfona de oito baixos. O evento aconteceu no Cine Teatro Sonia Maria Silvestre Lopes, com entrada franca.
A apresentação faz parte do programa Sonora Brasil, do Sesc, que promove uma turnê de dois anos, passando por unidades do Sesc de todo o país. O projeto é dividido em dois módulos sonoros que buscam demonstrar o desenvolvimento histórico da música nacional: Vozes do Brasil e Sotaques do Fole.
O primeiro tema está passando neste ano por estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto o segundo excursiona por estados do Sul e Sudeste; no ano que vem, ocorre a inversão dos módulos.
No Sotaques do Fole, é oferecido um panorama do acordeom (ou sanfona) em seus distintos gêneros musicais no Brasil. No mês passado, já passou por Marialva o gaúcho Gilberto Monteiro; ainda estão programadas apresentações de Dino Rocha, do Mato Grosso do Sul, e do duo de acordeões Ferragutti/Kramer, que apresenta peças relacionadas à música de concerto.
Retomada
Depois de 15 anos sem tocar sanfona, Truvinca voltou a pegar no instrumento há 5 anos, vendo uma retomada de interesse pela sua música. "Minha mulher até brigou comigo, dizia para eu não parar, mas eu estava desgostoso com a falta de reconhecimento", diz.
Radicado no Rio de Janeiro, durante mais de 30 anos teve de se dividir profissionalmente, tocando em bailes à noite e trabalhando como vigia e motorista. "Precisamos sustentar os filhos, né?". Já aposentado e morando em Recife, decidiu retomar a sanfona e agora se dedica exclusivamente ao instrumento, viajando pelo Brasil. "Tá bom demais desse jeito", diz.
Sinceridade
Truvinca confessa que os 15 anos parados afetaram sua habilidade manual e sua memória para um repertório extenso. "Antigamente, podia tocar quatro horas seguidas sem repetir nada. Hoje em dia, não dá mais... Além disso, tenho setenta anos, não sou mais garoto, fico tímido com o público", diz.
Mesmo com toda a modéstia, Truvinca vem colhendo elogios por onde passa, inclusive de professores de música. Nas apresentações para o projeto do Sesc, o sanfoneiro costuma receber cobranças de um CD ? que ainda não existe.
Seu único álbum, "Os Oito Baixos do Truvinca", foi lançado em LP pelo selo Esquema em 1980 e hoje é raríssimo ? o sanfoneiro já viu uma cópia sendo vendida num sebo de Recife por R$ 30.
Insatisfeito com o resultado da gravação ? "gravei tudo em quatro horas, não tive tempo para corrigir" ? Truvinca promete ainda para este ano o lançamento de um novo CD, com produção do Maestro Bozó.
O sanfoneiro não tem estudo formal em música, mas seu álbum virá com um encarte contendo as partituras de seus temas, para que os músicos interessados possam interpretá-los. "Esse disco sim vai ser porreta", promete.